Entrevista com Hiro Kawahara
Autor de A Sereia da Floresta e Yowiya fala sobre referências, processo criativo e carreira. Leia a entrevista completa.
Hiro Kawahara no lançamento de A Sereia da Floresta pela Editora JBC Rafael Salvador
O autor Hiro Kawahara, vencedor do prêmio de ouro do 18th Japan Internation MANGA Award com o quadrinho A Sereia da Floresta, contou um pouco de suas referências e sua carreira artística. Em março, o autor ainda viaja para o Japão para receber o prêmio pessoalmente, além de fazer visitas a editoras e conhecer outros autores de quadrinhos. Com uma vasta experiência como ilustrador, decidiu entrar no mundo dos quadrinhos aos 50 anos e passou a escrever suas próprias histórias além de guiar novos talentos com seus cursos. Leia a entrevista completa, a seguir.
- Quais são as suas principais influências nas artes, especialmente nos quadrinhos?
Eu tenho uma identificação muito forte com quadrinho europeu, é o que eu mais consumo atualmente.
O trabalho de Fabien Vellman e Kerascoet em “Beautifull Darkness” redefiniu a linha narrativa de quadrinho que eu faço atualmente, um fofo melancólico. Outros que uso como referência são Frederik Peeters (O Homem Rabiscado, Castelos de Areia), do lado narrativo. Visualmente tenho Jordi Lafebre (Verões Felizes) e Juanjo Guarnido como guias, mesmo sabendo que jamais conseguiria desenhar como eles.
Mas também tenho grandes referências japonesas. Eu tento entender a narrativa melancólica de Inio Asano desde que li “Oyasumi Punpum”. Sempre consulto o trabalho de Jiro Taniguchi (O Homem que Passeia) para trabalhar com narrativas mais simples e sintéticas, é um mestre da não-ação. Hoje também uso o traço de Ken Niimura (I Kill Giants) como referência de desconstrução de desenho, meu próximo quadrinho vai ter uma estética muito próxima do seu trabalho.
E obviamente, como conjunto da obra, não há como não falar do trabalho do Estúdio Ghibli como referência narrativa e visual, que influencia não só o meu, mas como o trabalho de milhares de autores e ilustradores. É um homem amargo, que sabe manipular o onírico com muita sensibilidade e nunca cedendo criativamente para tornar sua obra mais acessível.
- Das ilustrações, você mergulhou no mundo dos quadrinhos. Como foi essa transição para a criação e publicação das próprias histórias? O que você considera que foram os maiores desafios nessa trajetória?
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A Sereia da Floresta foi lançado pelo selo Start!
A motivação sempre foi financeira. Eu adoro ler livros e quadrinhos desde criança, mas sempre soube que seria uma trajetória muito difícil se eu começasse minha carreira fazendo quadrinhos.
Trabalhar com ilustração deu respaldo, e, com o tempo, também pude montar um repertório de leituras, além de melhorar meu desenho aos poucos. Decidi fazer quadrinhos quando fiz 50 anos, um momento em que muitos quando chegam na crise da meia idade compram uma moto ou montam uma pousada. No meu caso, foi começar a fazer quadrinhos, após 27 anos de carreira.
A maior dificuldade foi tomar a decisão de diminuir aos poucos a carreira como ilustrador e desistir da ideia de montar um grande estúdio de ilustração que iria atender estúdios de animações e de games. Mas percebi que, se seguisse por essa trilha, seriam mais 10 ou 15 anos atendendo e prospectando clientes, brigando por orçamentos justos, tudo o que um ilustrador faria multiplicado por 10.
Ainda sou ilustrador comercial, trabalhando na maioria para livros infantis. Mas aos poucos meus cursos, minha outra grande paixão, e os quadrinhos, ocuparão 100% do meu tempo. Defini que irei gastar meus últimos anos da minha carreira contando histórias e ensinando, e tenho me especializado nisso de forma gratificante.
- No seu processo de criação da história e personagens de A Sereia da Floresta, quais referências ou inspirações você resgatou?
A Sereia da Floresta que vocês estão lendo é a segunda versão de uma outra história que foi descartada durante a pandemia. Inicialmente a primeira história se passaria durante a Segunda Guerra Mundial, no Oceano Pacífico. Teriam duas espécies de sereias e não haveriam protagonistas humanos.
Ela foi descartada para dar lugar a uma história sobre ignorância e adaptação. Exatamente o que estávamos vivendo no momento. Então sim, a pandemia foi a primeira inspiração que eu tive.
Mas também é uma interpretação livre do conto “A Pequena Sereia”, misturada com o clima sombrio do filme “A Bruxa” de Robert Eggers.
E uma referência/homenagem importante que fica sutil no livro são as referências vindas de uma antiga revista em quadrinhos de terror chamada Kripta, que fazia sucesso na década de 80. O nome dos personagens principais – Brissen, Kui e Archeus – vieram de histórias dessas compilações. É um título que me influenciou muito não apenas na “Sereia da Floresta”, mas em outros livros que criei.
- Tem alguma curiosidade das suas histórias e dos bastidores de A Sereia da Floresta que você gostaria de compartilhar?
Como disse acima, essa história da Sereia é a segunda versão. A primeira já tinha cerca de 30 páginas e foi jogada no lixo por conta de uma ideia melhor ter surgido durante a pandemia.
A história deste livro tinha o dobro de páginas, e começava com a Kui chegando na floresta. Como ficou grande e caro demais para viabilizar em uma campanha de financiamento coletivo, tomei a decisão de contar a segunda metade da história. Neste momento, estou trabalhando com a primeira parte, como se fosse uma prequela.
Existem conexões sutis entre “A Sereia da Floresta” e “Parzifal” (Prêmio Cátedra Unesco-PUC de Literatura Juvenil em 2017), outro livro meu que conta uma história totalmente diferente, passado em outra época. Mas ambas têm maternidade e responsabilidade como temas abordados.
O livro foi colorizado pela minha filha, Nicole, uma grande criadora de histórias, assim como minha esposa Angela. Nós somos uma família onde criar histórias faz parte do cotidiano.
A Sereia da Floresta
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A Sereia da Floresta
A história
Uma sereia faz um pacto para sobreviver em um outro mundo e em outro corpo. Ela ressurge em uma floresta europeia, durante a Idade Média, onde encontra uma médica e alquimista persa. Juntas, elas tentam se adaptar a essa nova realidade, ao mesmo tempo em que a Grande Peste e a Inquisição assolam o mundo ao redor delas.
Autoria
Hiro Kawahara quase foi biólogo, mas decidiu se tornar ilustrador, quadrinista e professor de desenho. Ele criou e ilustrou as lâminas de bandeja do McDonald’s por 27 anos. Em 2015 tornou-se autor de quadrinhos. Produziu “Maravilhoso” (2015), “Yowiya” (2016), “Parzifal” (2017, vencedor do Prêmio Cátedra Unesco de Literatura Juvenil), “Últimos Deuses” (2018, com roteiro de Eric Peleias), “Astolat” (2019, o prelúdio de “Parzifal”), e “Miwa” (2023).
A Sereia da Floresta
Autoria: Hiro Kawahara
Gênero: Fantasia, drama
Páginas: 160
Volume único
Recomendação etária: 16 anos
Editora JBC
- Edição impressa
Formato: 17,0 × 24,0 cm
Capa com orelhas e verniz localizado
Preço: R$ 69,90
ISBN: 978-65-5594-572-0
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Você pode adquirir A Sereia da Floresta em formato impresso no(s) site(s) abaixo:
- Edição digital
Formatos: .epub/ .mobi
Disponível em Formato Digital
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